A fantasia de um mundo sem polícia
Novo livro defende a abolição das forças de segurança, mas ignora evidências sobre sua importância na proteção da sociedade
Por Robert VerBruggen – Artigo originalmente publicado na City Journal | Tradução e adaptação: Blog da Renata Pimenta | 26 de maio de 2025
O movimento “desfinancie a polícia” ganhou notoriedade durante os protestos do Black Lives Matter em 2020. Apesar do destaque, a maioria dos políticos e eleitores – inclusive da comunidade negra americana – rejeitou as propostas radicais de abolição ou redução drástica da presença policial.
Em 2025, em meio a uma guinada conservadora no cenário político dos Estados Unidos, a ativista canadense Sandy Hudson volta a defender essas ideias em seu livro Defund: Black Lives, Policing, and Safety for All. Sua proposta não é apenas cortar verbas, mas eliminar completamente a polícia – um projeto ousado e, para muitos, perigoso.
A função dissuasora da polícia
Numerosos estudos mostram que a presença policial reduz o crime, especialmente quando focada em áreas de alta criminalidade ou em infratores reincidentes. A atuação das forças de segurança também é vital para efetuar prisões e levar criminosos à Justiça. Mesmo com limitações, a polícia ainda é uma das formas mais eficazes e econômicas de combater a violência.
O livro de Hudson minimiza esse papel, concentrando-se em casos de má conduta policial e em críticas a reformas como o uso de câmeras corporais, conselhos civis de revisão e armas não letais. Para ela, até mesmo robôs seriam “racistas”.
Alternativas controversas
A autora propõe substituir a polícia por medidas sociais: melhorias urbanas, apoio em saúde mental e mediação de conflitos por ONGs. Em casos de violência, ela sugere “incapacitar a parte violenta”, “levar a parte violenta a um local mais seguro” e “avaliar a responsabilização” – sem explicar quem usaria a força necessária, já que não haveria policiais.
Hudson também associa crime e pobreza de forma simplista, sugerindo que criminosos violentos agem por falta de alternativas. Ela ignora que a maioria dos pobres não comete crimes e que fatores como impulsividade e desestrutura familiar também contribuem para comportamentos delinquentes.
Conclusão
É legítimo criticar abusos policiais e exigir reformas, mas propor um mundo sem polícia é ignorar a realidade enfrentada por milhões de cidadãos – especialmente os mais vulneráveis, que dependem da proteção do Estado para viver em segurança.
A utopia de Hudson, ao desprezar as evidências e exagerar as falhas, corre o risco de agravar justamente os problemas que diz querer resolver.