quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 


Bolsonaro tem mais apoio entre policiais militares, mas desgaste aumentou


Se nas forças de segurança pública da União a insatisfação é crescente, nas polícias militares (PMs) estaduais Bolsonaro ainda conta com maior apoio, principalmente entre os praças – soldados, cabos, sargentos e subtenentes, de nível hierárquico inferior. A adesão, segundo observadores, se dá por dois motivos: a defesa histórica que Bolsonaro fazia da categoria em seus 27 anos como deputado federal e a identificação com o discurso duro de combate aos bandidos.


“Entre policiais civis e da União, Bolsonaro já perdeu mais de 50% de apoio. Entre os praças da PM, de 80% a 90% votam em Bolsonaro, por causa da identidade militar. Entre os oficiais [tenentes, capitães, majores e coronéis, de grau mais elevado na hierarquia], de 50% a 70% ainda apoiam o presidente”, estima o coronel Elias Miller, diretor legislativo da Federação Nacional das Entidades dos Oficiais Militares Estaduais (Feneme), que reúne representantes dos policiais militares de todos os estados.


Apesar disso, Miller diz que as PMs também estão decepcionadas com Bolsonaro. São dois motivos: extinção do Ministério da Segurança Pública, que, segundo ele, era um sonho antigo para integrar melhor as corporações estaduais; e a dificuldade em aprovar no Congresso medidas mais duras contra o crime e em favor da proteção dos policiais de rua.


“O Bolsonaro não é mais o deputado que sempre votou em defesa do policial ou do militar. O que ele fez pela segurança? De medida efetiva, nesses três anos e meio, nada. Os números são altamente favoráveis, mas o pacote anticrime do [ex-ministro] Sergio Moro foi atropelado”, acrescenta Miller.


Para ele, os homicídios e a letalidade policial diminuíram a partir de 2019 porque, com base no discurso duro de Bolsonaro contra os criminosos, criou-se neles uma percepção de que teriam muito mais dificuldade para escapar da punição e da prisão. “Só com a possiblidade de retaliação, o crime deu uma recuada. O criminoso só respeita se o Estado é eficiente ou se tem um criminoso pior que ele”, diz Miller.


Apesar da decepção com o governo, ele acredita que a maioria dos policiais ainda vai votar em Bolsonaro pela identidade com o discurso do presidente. Mas não significa que vão militar e ganhar mais votos para ele, como ocorreu em 2018. “Isso ele não está vendo. O militante multiplica o voto dele. Em 2018, foram eleitores militantes que elegeram Bolsonaro. Se ele não resgata esse eleitor militante e se a disputa ficar acirrada, ele perde a eleição. E esse é o grande perigo.”


Apoiador fiel de Bolsonaro, o deputado Coronel Tadeu (PL-SP), por outro lado, estima que, pelo menos em São Paulo, seu estado e que tem 146 mil policiais ativos e inativos, a maioria votará em Bolsonaro: “95% são bolsonaristas. Existem uns 5% que não gostam. Alguns são petistas, mas são minoria da minoria. Ele [Bolsonaro] tem coragem de falar aquilo que muita gente tem medo. O policial não pode falar por causa do regulamento, mas quando o Bolsonaro chama o vagabundo de vagabundo, o policial fica feliz”.


“As ações do Bolsonaro, de defesa do endurecimento das leis, principalmente as processuais penais, contam muito. Claro que o presidente não pode tudo, e por isso não consegue aprovar muita coisa no Congresso, mas se empenha. O apoio aos CACs [caçadores, atiradores e colecionadores] também conta muito, porque os policiais são envolvidos nos clubes de tiro”, acrescenta o deputado, em referência à facilitação para o porte de armas para esse grupo.


Ele também pondera que Bolsonaro pouco pode fazer pelas polícias estaduais, controladas pelos governadores. Mas, mesmo assim, tenta ajudar.


Em março, o presidente sancionou uma medida provisória, relatada por Coronel Tadeu, que criou um programa habitacional para baratear a compra da casa própria por policiais com salário de até R$ 7 mil. Foi garantido um subsídio anual de R$ 100 milhões, retirados do Fundo Nacional de Segurança, para financiar os juros menores. O deputado ainda tenta garantir mais benesses para a classe, como isenção de tributos e financiamento do fundo para compra de armas próprias.


Apoio de policiais a Lula fica ainda mais distante


Se o apoio dos policiais a Bolsonaro já foi maior, mas ainda persiste, em relação a Lula, a postura dos agentes de segurança pública é de rejeição quase total, segundo os entrevistados. As recentes declarações do petista só agravaram a repulsa da categoria por ele. Lula disse que Bolsonaro “não gosta de gente, ele gosta de policial” e reclamou que jovens, “por falta de perspectivas”, são presos por roubarem celular. Lula pediu desculpas pela fala sobre os policiais.


“Claro que Lula não considera policial como gente, nunca vi bandido gostar de polícia. E Lula não gosta de polícia”, provoca o deputado Coronel Tadeu.


O coronel Elias Miller, diretor Federação Nacional das Entidades dos Oficiais Militares Estaduais (Feneme), diz que os governos do PT e a esquerda em geral nunca conseguiram cuidar da segurança pública pela “experiência traumática” que sofreram na ditadura militar, quando militantes eram perseguidos pela polícia.


“Não souberam o que fazer com a polícia. É como se você fosse mordido pelo cachorro, depois virou dono do cachorro e agora não sabe o que fazer. Agora, estão tentando acordar”, diz Miller, relatando que pessoas próximas de Lula têm procurado dialogar com representantes da categoria, mas ainda sem sucesso.


“Duas coisas do discurso petista ou de esquerda afastam as polícias. O primeiro é o garantismo excessivo para defender o bandido. Qualquer policial que troca tiro na rua e depois vê o bandido sair antes dele do local do crime ou no dia seguinte ser solto acha isso horrível. E vem a esquerda dizer que bandido vítima da sociedade? Isso para ele é loucura”, diz Miller.


O outro fator de afastamento dos agentes de segurança em relação a Lula é a defesa da esquerda da desmilitarização das polícias estaduais – o que faria a categoria perder direitos, como aposentadoria integral, amparo a viúvas e filhos de policiais mortos em combate, além de assistência médica diferenciada.

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