Representantes do governo estadual e da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm se reunido com frequência nos últimos dias. Se durante a campanha eleitoral as críticas e os ataques desferidos entre petistas e membros do Partido Novo em Minas foram a tônica da campanha eleitoral e expuseram diversas fissuras, passadas as eleições, a alta tensão vai dando lugar, ao menos um pouco, a uma tentativa de apaziguamento. 

Durante a campanha, inclusive, o governador Romeu Zema chegou a falar em “PTfobia” e chamou o PT de “partido da tragédia” no segundo turno.

Passada a eleição, a situação mudou. Somente o vice-governador eleito, Mateus Simões (Novo), atual titular da Secretaria Geral do Estado, já participou de ao menos quatro reuniões presenciais com a equipe de transição de Lula: duas em Brasília e duas em Belo Horizonte. 

Ele também já conversou com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Os dois já foram colegas de partido quando eram filiados ao PSDB. “São contatos da área técnica e ainda pontuais. Está claro que os temas federais se sobrepõem no momento, mas a expectativa é que o presidente eleito se reúna com os Estados no início do governo. Até porque tem muitas coisas em andamento. Mas já temos vários pontos de contato inaugurados”, declarou Simões à reportagem de O TEMPO.

Já houve conversas também entre representantes das pastas estaduais de Infraestrutura, Planejamento, Fazenda e Segurança, entre outras áreas, com membros da transição. 
Entre esses contatos, o comandante geral da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), coronel Rodrigo Rodrigues, se reuniu com integrantes da transição da área da segurança. 

O secretário Fernando Marcato, da pasta da Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), por exemplo, estará em Brasília hoje, quando deverá se reunir com o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), membro do grupo da infraestrutura da transição do governo eleito. 

Divergências

A infraestrutura contempla uma das principais polêmicas, pois envolve a privatização do metrô de Belo Horizonte. A posição das duas partes é divergente e notória: enquanto o governo estadual é a favor da realização do leilão da privatização, marcado para 22 de dezembro, alegando que a suspensão pode fazer com que os recursos (R$ 3,2 bilhões) possam ser perdidos, a equipe de transição de Lula, inclusive Silveira, é contra o procedimento e pediu o adiamento do processo. 

Outra privatização divergente entre Estado e transição é o leilão de desestatização da CeasaMinas, também marcado para dezembro e cujo processo foi alvo de pedido formal de adiamento da equipe de transição. São temas que Marcato deverá debater com Silveira.

“Isso (os pedidos de adiamento dos leilões) causou-nos certa frustração, porque são processos com datas já definidas e em processo conduzidos pelo governo federal”, ressaltou Mateus Simões. “O metrô de São Paulo, onde Alckmin foi governador, é concedido. No Piauí, governado pelo PT, a central de abastecimento também é concedida. Não são questões que agridem a matriz de decisão do PT, são modelos que eles já conhecem. Então, estamos em contato para buscar uma solução”, completou Simões. 

Ainda no campo da infraestrutura, a duplicação da BR–381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, na região do Rio Doce, também já entrou na pauta com a transição. 

A concessão da rodovia foi anunciada para dezembro, em anúncio feito por Zema e pelo atual ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, durante a campanha eleitoral, mas a data ainda não foi definida.

Recuperação Fiscal já foi tema de debate

A adesão do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) também já foi tema de conversas entre representantes da Secretaria de Estado da Fazenda (SEF) e o grupo técnico dessa área. O projeto, que está em tramitação na Assembleia Legislativa, mas cuja adesão foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), deve ser consolidado apenas em 2023. 

“É um direito do Estado e está amparado em lei. Ainda não foi propriamente uma negociação (com a transição), até porque ainda estamos na fase inicial de negociação do acordo com o atual governo federal. Foi mais uma questão de acompanhamento mesmo, mas não houve qualquer sinalização contrária”, disse Simões. 

Outro tema que tem acompanhamento é a negociação sobre a repactuação do Acordo de Mariana, por causa do rompimento da barragem da Samarco, em 2015, mas cujo processo é conduzido pela Advocacia Geral da União (AGU) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 

Simões defende agora ‘cura recíproca’

Se a campanha anti-PT, principalmente no segundo turno, pode ter criado uma fissura, a avaliação agora é que o apaziguamento é necessário. E Mateus Simões é um dos principais articuladores nesse cenário. 

“Eu sou muito focado na gestão. Por isso, muitos me consideram pouco político. Estou fazendo o meu possível para que tenhamos uma relação adequada para gerir os projetos, mesmo com as divergências. Há uma tentativa de construção de ponte e percepção de que é preciso apaziguar para poder administrar o país e o Estado. Não dá para manter um ânimo de discussões que prevaleceu de lado a lado no período eleitoral. As eleições foram encerradas”, pontuou.

Segundo ele, há ainda “dores do processo eleitoral”, mas é necessária uma “cura recíproca”. “Eu percebo que o PT local ainda tem dores do processo eleitoral, um certo incômodo. Mas essas dores são recíprocas. Nós apanhamos também. Então, o processo de cura também é recíproco. Eu já estive com alguns deputados (do PT) depois da eleição e falei que é necessário uma construção do que for possível. Sabemos que o PT será oposição aqui em Minas, assim como o Novo e a centro-direita serão oposição ao governo Lula. Mas não se pode deixar que essa discussão partidária e política se misture com temas administrativos, pois quem sai perdendo é a população”, declarou.