sábado, 8 de novembro de 2025

Crítica – O retorno à farda* A farda pesa.

 


*Crítica – O retorno à farda*


A farda pesa.

Pesa nas costas, nos ombros, na mente e na alma. Pesa quando o corpo grita por descanso e a missão exige presença. Pesa quando cada ocorrência traz o risco real de não voltar pra casa. Ser policial militar é viver numa corda bamba entre a razão e o instinto, entre a honra e o medo, entre o dever e o sacrifício. É trabalhar 30 anos com o coração apertado, carregando nas costas uma instituição, uma sociedade ingrata e uma rotina que drena cada gota de energia.

A farda pesa, pesa quando, em frações de segundo, o policial precisa decidir se atira para salvar a própria vida ou se hesita para não responder por um suposto excesso. É caminhar por décadas no fio da navalha, sabendo que qualquer escolha, mesmo a certa, pode custar a carreira, a liberdade ou o nome. Nada é simples, nada é garantido. Cada passo é uma aposta, cada ação é uma roleta russa moral e jurídica.


É lidar com tragédias, ver o pior do ser humano e, mesmo assim, seguir de pé, engolindo o choro, disfarçando o cansaço e fingindo que está tudo bem. Cada decisão tomada na rua tem um preço: psicológico, familiar, emocional. Quem veste essa farda sabe o peso que ela cobra, e sabe que, no final da carreira, o maior prêmio não é um reajuste, mas o direito de descansar em paz.


Por isso, é quase inacreditável ver colegas que, depois de 30 anos nessa labuta, ainda lutam,até na Justiça, pra voltar. Voltar pra quê? Pra reviver o estresse? Pra sentir novamente o frio na barriga de uma ocorrência? Ou pra somar uns trocados a mais na aposentadoria?


É duro dizer, mas essa insistência é um tapa na cara de quem ainda está na linha de frente. Enquanto a tropa sua, envelhece e adoece tentando chegar vivo aos 30, 35 anos de serviço, tem gente brigando pra estender a própria exposição ao risco e, de quebra, empurrando pra todos nós a conta de uma provável nova reforma da previdência.


Já vimos a idade de aposentadoria subir de 30 pra 35 anos, e se continuar assim, logo serão 40. E tudo por quê? Por vaidade? Por apego? Ou por uns míseros benefícios que, no fim, não pagam nem o preço da saúde perdida?


Quem passou 30 anos na ativa e ainda não se resolveu financeiramente precisa rever as próprias escolhas e não sacrificar o futuro dos outros.


Chamar isso de amor à farda é engano. É egoísmo. É esquecer que o verdadeiro mérito de quem serviu é saber parar com dignidade e não prolongar uma luta que já deveria ter sido vencida.


Servir é honra. Saber a hora de parar é sabedoria. Mas insistir em voltar, depois de tudo que a farda cobra… é brincar com o sacrifício dos que ainda estão pagando o preço todos os dias.

Desfile do CFSd Pelo 02/85, 9°BPM, comandado pelo na ocasião pelo Asp Márcio Martins Sant'Ana

 Desfile do CFSd Pelo 02/85, 9°BPM, comandado pelo na ocasião pelo Asp Márcio Martins Sant'Ana