O “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” de Zema
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Cada vez mais crítico e monotemático, Romeu Zema, governador de Minas, entrou de vez na onda antipetista lacradora. O que é uma pena, aliás. O lulopetismo já dá motivos de sobra para críticas fundamentais e fundamentadas, sem a necessidade de reducionismos e simplificações rasteiras. Propor o debate maduro e construtivo deveria ser, portanto, a baliza eleitoral de Zema, e não o “copia e cola” do modo Nikolas-Cleitinho-Bolsonaro. Até porque, convenhamos, ele não tem uma fração do carisma e popularidade dos dois ”parlamentares tiktokers”.
O pior é que o governador mineiro tem “telhado de vidro”. E muitos. Por exemplo: conta com o terceiro maior salário do país entre os chefes de Executivo estaduais, mesmo Minas Gerais sendo apenas o quarto estado brasileiro com o maior custo de vida, e Belo Horizonte, a quinta cidade mais cara do Brasil. Zema recebe mais de 42 mil reais mensais. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, 36 mil reais. Alguns governadores de estado (Rio de Janeiro e Ceará) recebem, no máximo, a metade do salário de Zema.
Mais do mesmo?
Outro tema que o governador do Novo não pode, ou não deveria, falar a respeito – criticando o governo federal – são os infames sigilos. Lula, em campanha, prometeu não repetir seu antecessor Bolsonaro, mas, como de costume, não cumpriu. Zema o critica muito por isso, e com toda a razão, mas ele mesmo mantém seus sigilos (bilionários) no estado. Segundo matéria da Folha deste domingo (25), benefícios fiscais concedidos a empresas e setores são um bom exemplo. Para 2025, a previsão de gastos é superior a 22 bilhões de reais.
Há alguns dias, outro sonoro “eu critico, mas faço igual”, ou ainda pior, de Romeu Zema: em comum acordo com a Assembleia e o Judiciário de Minas, Zema não vetou o aumento de até 500% – sim, leitor amigo, leitora amiga, você leu certo, até seis vezes de majoração – nas taxas cartoriais para transferência de imóveis. E ainda usou o tradicional argumento do lulopetismo: cobrar menos nas transferências de menor valor e mais, nas de maior importe.
O preço do amanhã
Há pessoas que, com maturidade e sabedoria, compensam os males do envelhecimento físico e cognitivo que o passar dos anos trazem. Outras, contudo, “não apenas não aprendem nada como não esquecem nada”. É o caso de Zema? Não diria tanto. Não quero ser tão severo com nosso simpático Chico Bento. Apenas gostaria que se lembrasse de sua estatura institucional e de seus cabelos brancos. A política passa. A história, não. Como seremos retratados e lembrados no futuro é uma escolha pessoal e diária
Ricardo Kertzman
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Ricardo Kertzman é empresário, e há 8 anos milita no jornalismo profissional. Tem passagens pelo jornal Estado de Minas e Portal UAI, com a coluna Opinião Sem Medo, pela revista e site da IstoÉ, e Rádio Itatiaia como comentarista do Conversa de Redação. Escreve para a revista Encontro, o Portal O Antagonista e é comentarista da Rede 98