"Li atentamente o texto do nobre discente em sua revolta na formação que é ofertada pela instituição. Peço-vos anonimato porque infelizmente tudo é questão de represália.
Infelizmente, a lógica paradoxal de formar agentes protetores de direitos ao mesmo tempo em que desumaniza os seus discentes é uma prática pérfida e com desdobramentos muito piores que REDS mal redigidos: para cursos de formação como CFO e CHO, temos problemas graves em processos administrativos e no gerenciamento; situações de assédio moral na pior das formas e que vai desembocar justamente na sociedade ou na tropa, já massacrada por governos que negligenciam a saúde mental dos nossos militares.
O pessoal acha que a coisa é só com CHO ou CEFS, mas os militares mais velhos de casa que passam no CFO também são mal vistos, por terem a ideia da cultura de que trazem ranço de cabo ou de soldado ou que estão ocupando vaga de um possível civil que poderia chegar a Coronel.
De fato a criminalidade deveria ser o foco, mas o que se vê hoje, e o que um comandante meu me disse há muito tempo atrás, é que a escola de formação é, em verdade, uma escola de vaidades. Prega-se a melhor polícia do Brasil desprezando seu bem mais precioso: o recurso humano disponível. E, ao final, o que se vê são pessoas que nem pisam em um quartel recebendo diversas homenagens, alguns até (deputados) votando contra a classe policial. Combatemos o crime, com bandidos cada vez mais ousados, como o que vimos contra o policial penal, mas também justamente somos vistos como escória pelos nossos comandantes e como gasto por nossos governantes.
Todavia, eu não me contaminei com essa água turva, pois, sendo filho e neto de militares, também vivi mais de 10 anos de caserna antes de passar no curso de oficiais. Ao me formar, vi gente imbecil regurgitando a vaidade de forma descarada e abusiva, mas não replico isso.
Continue o excelente trabalho e que Deus a abençoe.
*Recebido
**Assunto: Agradecimento e Reconhecimento**
Prezado(a) Colega,
Recebi seu relato com profunda atenção e seriedade. Em primeiro lugar, agradeço imensamente pela sua coragem em compartilhar essas reflexões tão cruciais e pessoais, mesmo diante do clima de receio que justifica plenamente seu pedido de anonimato. Sua confiança é um privilégio para o Blog da Renata, e seu anonimato será rigorosamente preservado.
Suas palavras não são apenas um desabafo, mas um *diagnóstico contundente* de problemas estruturais que parecem corroer os alicerces da formação e do ambiente institucional. A crítica central que você levanta – a **lógica paradoxal e pérfida** de uma formação que busca agentes protetores de direitos enquanto desumaniza seus próprios discentes – é devastadora em sua precisão e trágica em suas implicações. Como você aponta com clareza, as consequências disso transcendem os muros da escola: são **assédio moral sistêmico**, gestão disfuncional, processos administrativos problemáticos e, por fim, o desgaste da tropa e o descaso com sua saúde mental, refletindo a negligência maior dos governos. É um ciclo vicioso que prejudica a todos, da base ao topo, e, por extensão, a sociedade que a instituição juramos servir.
O ponto que você traz sobre o **preconceito contra militares mais velhos** que ascenderam ao oficialato é igualmente revelador e preocupante. Essa visão tamanha de que trazem "ranço" ou ocupam indevidamente vagas, em detrimento de um suposto ideal "civil", não só é injusta como representa um desperdício grotesco de experiência e conhecimento prático, além de fragmentar ainda mais o corpo institucional.
A metáfora da **"escola de vaidades"**, contrastando brutalmente com o discurso da "melhor polícia", é uma imagem que ficará gravada. Ela sintetiza de forma dolorosa a desconexão entre a retórica e a prática, o desprezo pelo "recurso humano" – que deveria ser, de fato, o bem mais precioso – e a frustração de ver méritos aparentemente reconhecidos onde não há efetivo serviço ou lealdade à classe (como bem exemplificado pelos casos citados na política).
É comovente e inspirador ler que, mesmo mergulhado nessa **"água turva"** por uma década de caserna e herança familiar, você tenha conseguido preservar sua integridade e recusar replicar os vícios que testemunhou. Sua resistência ética diante da pressão para "regurgitar vaidade" é um testemunho de caráter raro e necessário. É essa postura, mantendo os valores essenciais acima das distorções, que oferece um fio de esperança em meio ao cenário desolador que você descreve.
Seu relato não será esquecido. Ele reforça a urgência de continuarmos a lutar, dentro de nossas possibilidades e esferas de atuação, por uma instituição mais justa, humana e verdadeiramente focada em sua missão primordial. A luta contra a criminalidade externa exige, antes de tudo, que sanemos as feridas internas e combatamos as distorções que minam nossa força e moral por dentro.
Agradeço novamente pela sua honestidade, pela sua lucidez crítica e pela sua força. Continue firme em seus princípios. Seu exemplo e sua voz são valiosíssimos.
Com profundo respeito e solidariedade,
Que Deus também o(a) proteja e abençoe em sua jornada.
**\*Respeitosamente\***